terça-feira, 20 de janeiro de 2009

"I'm the hand up Mona Lisa's skirt"


Primeiro: chego aqui com meses de atraso. Mas cheguei, então tá. Como bem disse a namoradinha do Alexandre Frota num de seus filmes pornô, "não lhe devo satisfação". E carregue no sotaque nordestino.

Segundo: queria começar falando de algum filme importantíssimo pra mim, algo do gênero. Resolvi desopilar. Dia desses, cheguei em casa do trabalho, cansada, enxaqueca, fui direto dormir. Acordei madrugada alta e resolvi assistir a algum filme. Na minha coleção, saltou aos olhos aquele amigo antigo, empoeirado. Gritou: "lembra de mim, é, safada?" e eu tive que acudi-lo.

Olhando dentro de mim, me pesquisando, sorrindo jocosamente com aquela propriedade que só os grandes filmes possuem, aquela caixinha do VHS do Advogado do Diabo (The Devil's Advocate, 1997) me escolheu. Ah, que saudade! Olha, até o Keanu Reeves tá bom nesse filme. Ele muda de expressão. Juro.

Comecei a rememorar, trazer pro meu colo aquele bando de sensação boa de ter na frente um filme cheio de significados e filosofias e lições e idéias. E zaz. Fell for Him again.

O filme não tem nada a ver com aquele livro do Morris West, com o mesmo título. Se não me engano, tem a ver com padre, santos, fé... Stigmata style. Minha mãe pegou emprestado uma vez e eu me emocionei, queria ler também. Aí ela começou a dizer que tinha um padre na história e eu pensei "bah, nada a ver com o filme" e nunca mais me interessei nele.

Advogado do Diabo é uma fábula sobre o livre-arbítrio. Fábula, porque tem moral no final. O interessante é que a moral você é quem escolhe. Tem pra todo gosto, depende da tua visão, do teu momento, da tua boa vontade, do teu humor. Eu estou pra maldade, mas isso é normal. Sempre estou. Sou eternamente cativada pelos psicopatas, vilões, demônios e bebedores de sangue. Então não sirvo de exemplo.

A história traz o jovem advogado do interior Kevin Lomax (Keanu Reeves, nham!), casado com a linda linda Mary Ann (Charlize Theron), que nunca perdeu um caso. Tudo começa no tribunal, óbvio. E, meu senhor, como eu gosto de filme de tribunal. Lomax está defendendo um pedófilo, fica naquela dúvida entre ética profissional e sua moral. Ele escolhe a primeira, ganha o caso e é convidado a trabalhar numa grande empresa, em New York.

Lá, tudo muda. Coisas estranhas começam a acontecer. Mary Ann enlouquece. Ela é a ligação de Kevin com o mundo real, com a humanidade, a bondade. Ela é linda, com seus cachinhos dourados. Sob influência do novo chefe do marido, John Milton (Al Pacino), e do ambiente em si, ela se transforma. Corta o cabelo, o escurece, e então começa a desbotar em todo o resto. Ela é consumida pelo novo estilo de vida do marido, mais compenetrado em ter sucesso na carreira do que com qualquer outra coisa. Mary Ann é o que resta de humano, de sentimental, em Kevin, e precisa ser anulada.

Não é um filme de terror não, bem capaz. Ele é deliciosamente diabólico. Repara na língua do Al Pacino. O tempo inteiro sibilante. Um detalhe como esse pode dizer muita coisa, e Advogado do Diabo é repleto deles. Amo detalhes. E o capeta sempre me conquista.

A minha moral? Sempre se dá um jeito de estragar tudo.